Tufão - Cap. 4: IV Pág. 55 / 103

E produziam-se também, a cada balanço, pancadas surdas - pancadas profundas, pesadas, como se um volumoso objecto de mais ou menos cinco toneladas andasse à solta no porão. Mas não havia nada dessa espécie na carga. Qualquer coisa no tombadilho? Impossível? Ou ao lado do navio? Não podia ser.

O mestre pensou tudo isto rapidamente, claramente, competentemente, como um homem do mar, e no fim continuou intrigado. Esse ruído, contudo, chegava amortecido de fora, juntamente com a passagem e a queda da água no tombadilho por cima da sua cabeça. Seria o vento? Tinha de ser. Produzia ali em baixo um barulho que lembrava o alarido de uma multidão de homens enlouquecidos. E descobriu em si próprio também o desejo de uma luz - quanto mais não fosse para ter qualquer coisa a alumiá-lo quando se afogasse - e uma ansiedade nervosa de sair daquela carvoeira o mais depressa possível.

Puxou para trás o ferrolho; a pesada chapa de ferro girou nos gonzos; e foi como se tivesse aberto a porta a todos os sons da tempestade. Uma rajada de uivos humanos veio ao encontro dele; o ar estava parado; e a investida ruidosa das vagas lá em cima era coberta por um tumulto de gritos estrangulados, guturais, que produziam um efeito de desesperada confusão. O mestre escarranchou as pernas a toda a largura da porta e esticou o pescoço. E a princípio viu apenas aquilo que tinha vindo procurar: seis pequenas chamas amarelas balouçando violentamente na grande massa de sombra.

Aquilo estava escorado como uma galeria de mina, com uma fila de balaústres no meio e traves mestras por cima, penetrando na escuridão que se prolongava - indefinidamente. E para bombordo divisava-se indistintamente, colada ao cavername de um dos lados, uma volumosa massa de contornos oblíquos.





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