Tufão - Cap. 5: V Pág. 78 / 103

O sangue corria pelas faces• havia bocados em carne viva nos crânios rapados, arranhões, equimoses, feridas abertas, lanhos. Os cacos da porcelana que se escapara das arcas eram os principais responsáveis por estes últimos. Aqui e ali um chinês, de olhar alucinado, com o rabicho desfeito, afagava a sola de um pé a sangrar.

Eles tinham sido agrupados numa massa compacta, depois de obrigados a submeterem-se, tendo recebido uns bofetões para baixar a excitação de mistura com palavras de encorajamento que soavam como ameaças. Agora estavam todos sentados na coberta em lúgubres fileiras pendentes e no fim o carpinteiro, ajudado por dois marinheiros movimentava-se activamente de um lado para outro, esticando e prendendo os cabos salva-vidas. O mestre, com uma perna e um braço em torno de uma coluna, lutava com um candeeiro apertado contra o peito, tentando arranjar luz e grunhindo a todo o instante como um gorila industrioso. Os vultos dos marinheiros dobravam-se frequentemente, com movimentos de ceifeiros, e tudo o que encontravam era arremessado para a carvoeira: roupas, estilhas de madeira, porcelana escaqueirada, e dólares também, encontrados em casacos de homem. De vez em quando um marinheiro dirigia-se a cambalear para a porta com os braços cheios de entulho; e os seus movimentos eram seguidos pelos olhos oblíquos e dolorosos dos celestes.

A cada balanço do navio as compridas fileiras de chineses sentados inclinavam-se para diante intermitentemente, e os seus mergulhos de proa faziam chocar a linha de cabeças rapadas de uma ponta à outra. Quando o barulho da água passando sobre o tombadilho cessava por um momento, parecia a Jukes, ainda todo trémulo dos esforços que fizera, que na sua luta desesperada ali em baixo tinha de certo modo levado a melhor sobre o vento: um silêncio tinha caído sobre o navio, um silêncio durante o qual o mar lhe martelava trovejantemente os flancos.





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