Tufão - Cap. 5: V Pág. 79 / 103

Tinham retirado tudo da entrecoberta --- todos os salvados, como diziam os marinheiros, agora muito hirtos e cambaleando sobre aquela mancha de cabeças e ombros caídos. Aqui e ali um coolie soltava um suspiro. Onde a luz caía, Jukes conseguia ver as costelas salientes de um, a cara amarela, ansiosa, de outro, pescoços curvados; ou descobria um olhar sombrio fixo na sua cara. Admirava-se de não ter encontrado cadáveres; mas toda aquela gente parecia prestes a exalar o último suspiro e Jukes achava-os mais dignos de compaixão do que se estivessem todos mortos.

De súbito um dos coolies começou a falar. A luz iluminava intermitentemente a sua cara magra e tensa quando ele atirava com a cabeça para cima como um cão de caça a ladrar. Da carvoeira chegavam sons de choques e o tilintar de alguns dólares que rolavam soltos; o homem estendeu o braço, a sua boca escancarou-se, negra, e os incompreensíveis sons guturais sibilantes, que não pareciam pertencer a uma linguagem humana, comunicaram a Jukes uma estranha emoção, como se estivesse a ouvir os esforços de um animal para articular palavras.

Dois outros começaram a proferir aquilo que a Jukes pareceu serem furiosas denúncias; os outros agitaram-se com grunhidos e rosnadelas. Jukes ordenou que os marinheiros saíssem a toda a pressa da entrecoberta. Foi ele o último a sair, recuando através da porta, enquanto as rosnadelas subiam para um clamoroso murmúrio e mãos se estendiam na direcção dele como para apanhar um malfeitor. O mestre trancou a porta e observou nervosamente:

- Parece que o vento parou, sir,

Os marinheiros sentiam-se contentes por voltarem para a passagem. Secretamente cada um deles pensava que no último momento poderia precipitar-se para o tombadilho - e isso era uma consolação.





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