Tufão - Cap. 5: V Pág. 81 / 103

- Tínhamos de fazer por eles o que era justo resmungou o capitão MacWhirr fleumaticamente. Não se encontra tudo escrito nos livros.

- Bem, acredito que eles nos teriam caído em cima se eu não tivesse mandado os marinheiros sair a toda a pressa lá de dentro - continuou Jukes com calor.

Depois do sussurro dos seus gritos, agora os tons normais, tão audíveis, ressoavam-lhes muito alto aos ouvidos na pasmosa imobilidade do ar. Parecia-lhes que estavam a falar no interior de uma alta abóbada cheia de ecos.

Através de uma abertura recortada na cúpula de nuvens a luz de um punhado de estrelas caiu sobre o mar negro, subindo e descendo continuamente. Às vezes a crista de um cone aquoso desabava a bordo e misturava-se com a agitação da espuma rolando no convés inundado; e o Nan-Shan chafurdava pesadamente no fundo de uma cisterna circular de nuvens. Este anel de vapores densos, girando loucamente em tomo da calma do centro, envolvia o navio como uma parede imóvel e ininterrupta de um aspecto inconcebivelmente sinistro. No meio, o mar, como se agitado por uma comoção interna, saltava em cômoros pontiagudos que se empurravam uns aos outros, chocando pesadamente contra os flancos do navio; e um som baixo e gemente, o infinito queixume da fúria da tempestade, vinha de além dos limites da calma ameaçadora. O capitão MacWhirr permanecia calado, e o ouvido apurado de Jukes surpreendeu subitamente o rugido quase inaudível e muito arrastado de qualquer vaga enorme precipitando-se invisível debaixo daquele espesso negrume, que formava o aterrador limite da sua visão.

- Claro - começou o imediato numa voz ressentida -, eles pensaram que tínhamos aproveitado a oportunidade para roubá-los. Claro! O senhor disse: recolha o dinheiro.





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