Tufão - Cap. 5: V Pág. 84 / 103

Agora não havia que duvidar. O capitão MacWhirr emitiu um «pss» na direcção do mostrador e atirou fora o fósforo.

Portanto o pior ainda estava para vir - e se os livros estavam certos esse pior seria muito mau. A experiência das últimas seis horas tinha ampliado a sua concepção do que o termo «mau tempo» poderia significar. «Vai ser medonho», pronunciou mentalmente. Não tinha olhado consciente para nada à luz dos fósforos excepto para o barómetro; mas mesmo assim tinha visto que a garrafa de água e os dois copos haviam sido projectados para fora do seu suporte. Isso parecia comunicar-lhe um conhecimento mais Íntimo dos balanços que o navio dera. «Eu nunca o acreditaria», pensou. E a sua mesa tinha sido misteriosamente esvaziada, também; as suas réguas, os seus lápis, o tinteiro - todas as coisas que tinham os seus próprios lugares onde se encontravam seguras - haviam desaparecido, como se mão malévola as tivesse colhido uma por uma e atirado com elas para o chão molhado. O furacão invadira o ordenamento arranjado da sua privacidade. Tal coisa nunca acontecera antes, e a sensação de desalento alcançou o próprio santuário da sua compostura. E o pior ainda estava para vir! Sentia-se satisfeito com o facto de aquela desordem na entrecoberta ter sido descoberta a tempo. Se o navio tivesse afinal de contas de perder-se, pelo menos não iria para o fundo com uma data de gente a bater-se com unhas e dentes. Isso teria sido detestável. E nesse sentimento havia uma intenção humana e uma vaga compreensão da conveniência das coisas.

Estes pensamentos instantâneos eram contudo na sua essência pesados e lentos, partilhando da natureza do homem. Ele estendeu a mão e tornou a colocar a caixa de fósforos no seu canto na prateleira.





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