Como ela queria sair daquela sala escura e passear entre aqueles canteiros de flores esplendentes e aquelas fontes fresquinhas! Mas não conseguia passar sequer sua cabeça naquele buraco, “e mesmo que minha cabeça passasse”, pensou a pobre Alice, “de nada serviria sem meus ombros. Ah, como eu gostaria de poder encolher como uma luneta! Acho que seria possível, se eu soubesse como começar.” Tantas coisas extraordinárias tinham acontecido ultimamente, vocês sabem, que Alice começava a pensar que quase nada seria realmente impossível de acontecer.
Como parecia inútil ficar esperando diante daquela porta, ela voltou para a mesa, meio esperançosa de encontrar uma outra chave, ou, pelo menos, um manual de instruções para encolher as pessoas como lunetas: dessa vez, encontrou uma pequena garrafa (“que certamente não estava aqui antes”, disse Alice). Presa ao gargalo, havia uma etiqueta de papel com as seguintes palavras: “BEBA-ME”, lindamente impressas em letras grandes. Era fácil demais dizer “BEBA-ME”, mas a inteligente pequena Alice não iria fazer isso assim com tanta pressa. “Não”, disse ela, “vou olhar primeiro e ver se não está marcado ‘veneno’”: pois ela já lera tantas histórias de crianças que tinham acabado queimadas, ou comidas por animais ferozes, ou outras coisas desagradáveis, tudo porque não se lembravam das regras mais simples que pessoas amigas lhes tinham ensinado, tais como: um atiçador em brasa, quando segurado por muito tempo, queima a mão; quando se corta o dedo muito profundamente com uma faca, em geral sangra; e ela nunca se esquecera de que, quando se bebe de uma garrafa marcada “veneno”, é quase certo que mais cedo ou mais tarde vai fazer mal.