“Como vai indo?” disse o Gato, assim que houve boca suficiente para falar.
Alice esperou aparecerem os olhos e então acenou com a cabeça. “É inútil falar com ele”, pensou, “antes que apareçam as orelhas, ou pelo menos uma delas.” Instantes depois, surgiu a cabeça inteira. Alice pôs seu flamingo no chão e começou a fazer um relato do jogo, sentindo-se muito feliz de ter alguém para escutá-la. O Gato devia estar pensando que já era suficiente aquela porção sua que estava à vista, pois o resto do corpo não apareceu.
“Acho que eles não jogam de maneira correta”, começou Alice em tom de queixa, “além disso brigam tanto que é impossível ouvir o que alguém fala... e acho que não têm regras muito definidas... ou, então, ninguém obedece a elas... e você não faz idéia de como é confuso as coisas serem vivas! Por exemplo, o arco sob o qual eu deveria passar minha bola foi andando para o outro lado do campo... e agora mesmo, bem quando eu ia acertar o ouriço da Rainha, ele saiu correndo ao ver o meu se aproximando...”
“Você está gostando da Rainha?” disse o Gato em voz baixa.
“Nem um pouco”, falou Alice, “ela é tão...” Justo neste momento, notou que a Rainha estava atrás dela, ouvindo tudo. Daí continuou: “...competente no jogo, que nem sei se vale a pena ir até o final da partida.”
A Rainha sorriu e passou ao largo.
“Com quem está falando?” disse o Rei, aproximando-se de Alice e observando a cabeça do Gato com grande curiosidade.
“É um amigo meu... um Gato de Cheshire”, disse Alice, “permita-me que o apresente.”
“A aparência dele não me agrada muito”, disse o Rei, “em todo caso, ofereço-lhe minha mão para ser beijada.”