A principal dificuldade que Alice encontrou no início foi manejar o seu flamingo: ela conseguia, bastante confortavelmente, segurar o corpo dele sob seu braço, deixando as pernas penduradas; porém, toda vez que esticava o pescoço dele, para golpear o ouriço, ele se virava e olhava-a com uma expressão tão atônita que ela não conseguia conter uma risada; e quando abaixava a cabeça dele para começar de novo, era irritante descobrir que o ouriço tinha se desenrolado e estava se movendo mais para adiante; além disso, sempre havia uma saliência ou um sulco, por onde quer que ela pretendesse lançar o ouriço; e como os soldados dispostos em arcos sempre se levantavam e mudavam de lugar pelo campo, Alice logo chegou à conclusão de que, de fato, era um jogo bem difícil.
Todos os participantes jogavam ao mesmo tempo, sem esperar a própria vez, discutindo sem parar e disputando os ouriços. Em pouco tempo a Rainha já estava furiosamente possessa, batendo com os pés no chão e gritando “Cortem a cabeça dele!” ou “Cortem a cabeça dela!” uma vez por minuto.
Alice começou a ficar preocupada: na verdade, ela ainda não tinha se confrontado com a Rainha, mas sabia que isso poderia ocorrer a qualquer momento. “E então”, pensou, “o que será de mim? Eles são loucos para decapitar as pessoas! É de espantar que ainda reste alguém vivo!”
Olhava ao redor, procurando uma saída e perguntando-se se conseguiria escapar sem ser vista, quando percebeu algo de estranho aparecendo no ar: a princípio ficou muito espantada, mas, após observar alguns instantes, percebeu que era um sorriso e disse a si mesma: “É o Gato de Cheshire. Agora terei com quem conversar.”