Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: CAPÍTULO 1

Página 11
Estava já acostumado. Sabia bem o que significava tudo aquilo. Isto só: Arte.

Pois Gervásio partia do princípio de que o artista não se revelava pelas suas obras, mas sim, unicamente, pela sua personalidade. Queria dizer: ao escultor, no fundo, pouco importava a obra de um artista. Exigia-lhe porém que fosse interessante, genial, no seu aspeto físico, na sua maneira de ser - no seu modo exterior, numa palavra:

- Porque isto, meu amigo, de se chamar artista, de se chamar homem de génio, a um patusco obeso como o Balzac, corcovado, aborrecido, e que é vulgar na sua conversa, nas suas opiniões - não está certo; não é justo nem admissível.

- Ora… - protestava eu, citando verdadeiros grandes artistas, bem inferiores no seu aspeto físico.

E então Gervásio Vila-Nova tinha respostas impagáveis.

Se por exemplo - o que raro acontecia - o nome citado era o de um artista que ele já alguma vez me elogiara pelas suas obras, volvia-me:

- O meu amigo desculpe-me, mas é muito pouco lúcido. Esse de quem me fala, embora aparentemente medíocre, era todo chama. Pois não sabe quando ele…

E inventava qualquer anedota interessante, bela, intensa, que atribuía ao seu homem…

E eu calava-me…

De resto, era outro traço característico em Gervásio: construir as individualidades como lhe agradava que fossem, e não as ver como realmente eram. Se lhe apresentavam uma criatura com a qual, por qualquer motivo,

simpatizava - logo lhe atribuía opiniões, modos de ser do seu agrado; embora, em verdade, a personagem fosse a antítese disso tudo.

É claro que um dia chegava a desilusão. Entretanto, longo tempo ele tinha a força de sustentar o encanto…

Pelo caminho, não pude deixar de lhe observar:

- Você Reparou que ela trazia os pés descalços, em sandálias, e as unhas douradas?

- Você crê?… Não…

A desconhecida estranha impressionara-me vivamente e, antes de adormecer, largo tempo a relembrei e à roda que a acompanhava.

<< Página Anterior

pág. 11 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Confissão de Lúcio
Páginas: 93
Página atual: 11

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A CONFISSÃO DE LÚCIO 1
PREFÁCIO 2
CAPÍTULO 1 4
CAPÍTULO 2 22
CAPÍTULO 3 40
CAPÍTULO 4 51
CAPÍTULO 5 57
CAPÍTULO 6 64
CAPÍTULO 7 81
CAPÍTULO 8 90