Rápida, após momentos, ela se afastou de nós a receber outros convidados.
A sala enchera-se entretanto de uma multidão bizarrada e esquisita. Eram estranhas mulheres quase nuas nos seus trajos audaciosos de baile, e rostos suspeitos sobre as uníssonas e negras vestes masculinas de cerimónia. Havia russos hirsutos e fulvos, escandinavos suavemente louros, meridionais densos,
crespos - e um chinês, um índio. Enfim, condensava-se ali bem o Paris cosmopolita - rastaquouère e genial.
Até à meia-noite, dançou-se e conversou-se. Nas galerias jogava-se infernalmente. Mas a essa hora foi anunciada a ceia; e todos passamos ao salão de jantar - outra maravilha.
Pouco antes chegara-se a nós a americana e, confidencialmente, nos dissera:
- Depois da ceia, é o espetáculo - o meu Triunfo! Quis condensar nele as minhas ideias sobre a voluptuosidade-arte. Luzes, corpos, aromas, o fogo e a água - tudo se reunirá numa orgia de carne espiritualizada em outro!
* * *
Ao entrarmos novamente na grande sala - por mim, confesso, tive medo… recuei…
Todo o cenário mudara - era como se fosse outro o salão. Inundava-o um perfume denso, arrepiante de êxtases, silvava-o uma brisa misteriosa, uma brisa cinzenta com laivos amarelos - não sei por que, pareceu-me assim, bizarramente -, aragem que nos fustigava a carne em novos arrepios. Entanto, o mais grandioso, o mais alucinador, era a iluminação. Declaro-me impotente para a descrever. Apenas, num esforço, poderei esboçar onde residia a sua singularidade, o seu quebranto:
Essa luz - evidentemente elétrica - provinha de uma infinidade de globos, de estranhos globos de várias cores, vários desenhos, de transparências várias - mas, sobretudo, de ondas que projetores ocultos nas galerias golfavam em esplendor.