música penetrante tilintava nessa nova aurora, em ritmos desconhecidos - esguia melopeia em que soçobravam gomos de cristal entrechocando-se, onde palmas de espadas refrescavam o ar esbatidamente, onde listas húmidas de sons se vaporizavam subtis…
Enfim: prestes a esvairmo-nos num espasmo derradeiro da alma - tinham-nos sustido para nos alastrarem o prazer.
E, ao fundo, o pano do teatro descerrou-se sobre um cenário aureolal… Extinguiu-se a luz perturbadora, e jorros de eletricidade branca nos iluminaram apenas.
No palco surgiram três dançarinas. Vinham de tranças soltas - blusas vermelhas lhes encerravam os troncos, deixando-lhes os seios livres,
oscilantes. Ténues gazes rasgadas lhes pendiam das cinturas. Nos ventres, entre as blusas e as gazes, havia um intervalo - um cinto de carne nua onde se desenhavam flores simbólicas.
As bailadeiras começaram as suas danças. Tinham as pernas nuas. Volteavam, saltavam, reuniam-se num grupo, embaralhavam os seus membros, mordiam-se nas bocas…
Os cabelos da primeira eram pretos, e a sua carne esplêndida de sol. As pernas, talhadas em aurora loura, esgueiravam-se-lhe em luz radiosa a nimbar-se, junto do sexo, numa carne mordorada que apetecia trincar.
Mas o que as fazia mais excitantes era a saudade límpida que lembravam de um grande lago azul de água cristalina onde, uma noite de luar, elas se mergulhassem descalças e amorosas.
A segunda bailadeira tinha o tipo característico da adolescente pervertida. Magra - porém de seios bem visíveis -, cabelos de um louro sujo, cara provocante, nariz arrebitado. As suas pernas despertavam desejos brutais de as morder, escalavradas de músculos, de durezas - masculinamente.
Enfim, a terceira, a mais perturbadora, era uma rapariga frígida, muito branca e macerada, esguia, evocando misticismos, doença, nas suas pernas de morte - devastadas.