Por exemplo o horror dos arcos - de alguns arcos triunfais e, sobretudo, de alguns velhos arcos de ruas. Não propriamente dos arcos - antes do espaço aéreo que eles enquadram. E lembro-me de haver experimentado uma sensação misteriosa de pavor, ao descobrir no fim de uma rua solitária de não sei que capital um pequeno arco ou, melhor, uma porta aberta sobre o infinito Digo bem - sobre o infinito. Com efeito a rua subia e para lá do monumento começava, sem dúvida, a descer De modo que, de longe, só se via horizonte através desse arco. Confesso-lhe que me detive alguns minutos olhando o fascinado Assaltou me um forte desejo de subir a rua até ao fim e averiguar para onde ele deitava. Mas a coragem faltou-me. Fugi apavorado. E veja, a sensação foi tão violenta, que nem sei já em que triste cidade a oscilei…
"Quando era pequeno - ora, ainda hoje! - apavoravam-me as ogivas das catedrais, as abóbadas, as sombras de altas colunas, os obeliscos. as grandes escadarias de mármore… De resto, toda a minha vida psicológica tem sido até agora a projeção dos meus pensamentos infantis - ampliados, modificados; mas sempre no mesmo sentido, na mesma ordem: apenas em outros planos.
"E por último, ainda a respeito de medos: Assim como me assustam alguns espaços vazios emoldurados por arcos - também me inquieta o céu das ruas, estreitas e de prédios altos, que de súbito se partem em curvas apertadas.
O seu espírito estava seguramente predisposto para a bizarria, essa noite, pois ainda me fez estas esquisitas declarações à saída do teatro:
- Meu caro Lúcio, vai ficar muito admirado, mas garanto-lhe que não foi tempo perdido o que passei ouvindo essa revista chocha. Achei a razão fundamental do meu sofrimento. Você recorda-se de uma capoeira de galinhas que apareceu em cena? As pobres aves queriam dormir.