A Confissão de Lúcio - Cap. 4: CAPÍTULO 2 Pág. 35 / 93

Tinham embrulhos nas mãos…

"E uma delas, a mais audaciosa:

"- Sabe que é um lindo rapaz?

"Protestei… E fomos andando juntos, trocando palavras banais… (Acredite que meço muito bem todo o ridículo desta confidência.)

"À esquina do Faubourg Poissonnière, despedi-me: devia-me encontrar com um amigo - garanti. Efetivamente. Num desejo de perversidade, eu resolvera pôr termo à aventura. Talvez receoso de que, se ela se prolongasse, me desiludisse. Não sei…

"Separamo-nos…

"Essa tarde foi a mais bela recordação da minha vida!…

"Meu Deus! Meu Deus! Como em vez deste corpo dobrado, este rosto contorcido - eu quisera ser belo, esplendidamente belo! E, nessa tarde, fui-o por instantes, acredito… É que vinha de escrever alguns dos meus melhores versos.

"Sentia-me orgulhoso, admirável… E a tarde era azul, o bulevar ia lindíssimo… Depois, tinha um chapéu petulante… ondeava-se-me na testa uma madeixa juvenil…

"Ah! como vivi semanas, semanas, da pobre saudade… que ternura infinita me desceu para essa rapariguinha que nunca mais encontrei - que nunca mais poderia encontrar porque, na minha alegria envaidecida, nem sequer me lembrara de ver o seu rosto… Como lhe quero… Como lhe quero… Como a abençoo… Meu amor! meu amor!…

E, numa transfiguração - todo aureolado pelo brilho intenso, melodioso, dos seus olhos portugueses -, Ricardo de Loureiro erguia-se realmente belo, esse instante…

Aliás, ainda hoje ignoro se o meu amigo era ou não era formoso. Todo de incoerências, também a sua fisionomia era uma incoerência: Por vezes o seu rosto esguio, macerado - se o víamos de frente, parecia-nos radioso. Mas de perfil já não sucedia o mesmo… Contudo, nem sempre: o seu perfil, por vezes, também era agradável… sob certas luzes…





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