A Confissão de Lúcio - Cap. 5: CAPÍTULO 3 Pág. 50 / 93

me senti humilhado, sujo, nesse instante - que difícil me foi suster a minha raiva e não o esbofetear, estender-lhe amavelmente a mão, na noite seguinte, ao encontrá-lo em casa do poeta…

Estas diligências torpes, porém, foram vantajosas para mim. Com efeito se, durante elas, não averiguara coisa alguma - concluíra pelo menos isto: que ninguém se admirava do que eu me admirava; que ninguém notara o que eu tinha notado. Pois todos me ouviram como se nada de propriamente estranho, de misterioso, houvesse no assunto sobre o qual as minhas perguntas recaíam - apenas como se fosse indelicado, como se fosse estranho da minha parte tocar nesse assunto. Isto é: ninguém me compreendera… E assim me cheguei a convencer de que eu próprio não teria razão…

De novo, por algum tempo, as ideias se me desanuviaram; de novo, serenamente, me pude sentar junto de Marta.

* * *

Mas ai, foi bem curto este período tranquilo.

De todos os conhecidos do artista, só um eu não ousara abordar, tamanha antipatia ele me inspirava - Sérgio Warginsky.

Ora uma noite, por acaso, encontramo-nos no Tavares. Não houve pretexto para que não jantássemos à mesma mesa…

… E de súbito, no meio da conversa, muito naturalmente, o russo exclamou, aludindo a Ricardo e à sua companheira:

- Encantadores aqueles nossos amigos, não é verdade? E que amáveis… Já conhecia o poeta em Paris. Mas, a bem dizer, as nossas relações datam de há dois anos, quando fomos companheiros de jornada… Eu tomara em Biarritz o sud-express para Lisboa. Eles faziam viagem no mesmo trem, e desde então…





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