Em mais de uma ocasião já Ricardo pressentira em mim decerto alguma coisa extraordinária. A prova foi que uma tarde, solícito, se informou da minha saúde. Eu respondi-lhe brutalmente - lembro-me - afirmando com impaciência que nada tinha; perguntando-lhe que ideia estrambótica era essa. 
E ele, admirado perante o meu furor inexplicável: 
- Meu querido Lúcio - apenas comentara -, é preciso tomarmos conta com esses nervos… 
Não podendo mais resistir à ideia fixa; adivinhando que o meu espírito soçobraria se não vencesse lançar enfim alguma luz sobre o mistério - sabendo que, nesse sentido, nada me esperava junto de Ricardo ou de Marta -, decidi valer-me de qualquer outro meio, fosse ele qual fosse. 
E eis como principiou uma série de baixezas, de interrogações mal dissimuladas, junto de todos os conhecidos do poeta - dos que deviam ter estado em Lisboa quando do seu casamento. 
Para as minhas primeiras diligências escolhi Luís de Monforte. 
Dirigi-me a sua casa, no pretexto de o consultar sobre se deveria conceder a minha autorização a certo dramaturgo que pensava em extrair um drama de uma das minhas mais célebres novelas. Mas logo de começo não tive mãos em mim, e, interrompendo-me, me pus a fazer-lhe perguntas diretas, ainda que um tanto vagas, sobre a mulher do meu amigo. Luís de Monforte ouviu-as como se as estranhasse - mas não por elas próprias, só por virem da minha parte; e respondeu-me chocado, iludindo-as, como se as minhas perguntas fossem indiscrições a que seria pouco correto responder. 
O mesmo - coisa curiosa - me sucedeu junto de todos quantos interroguei. Apenas Aniceto Sarzedas foi um pouco mais explícito, volvendo-me com uma infâmia e uma obscenidade - segundo o seu costume, de resto. 
Ah! como