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Capítulo 7: CAPÍTULO 5

Página 62
Bastava olhá-lo para logo se ver que nenhuma preocupação o torturava. Nunca o vira tão satisfeito, tão bem disposto.

Um vago ar de tristeza, de amargura, que após o seu casamento ainda de vez em quando o anuviava, esse mesmo desaparecera hoje por completo - como se, com o decorrer dos dias, ele já tivesse esquecido o acontecimento cuja lembrança lhe suscitava aquela ligeira nuvem.

As suas antigas complicações de alma, essas, mal eu chegara a Lisboa logo ele me disse que já não o desolavam - pois que, nesse sentido, a sua vida se limpara.

E - facto curioso - justamente depois de Marta ser minha amante é que tinham cessado todas as nuvens, é que eu via melhor a sua boa disposição - o seu orgulho, o seu júbilo, o seu triunfo…

As imprudências de Marta aumentavam agora dia a dia.

Numa audácia louca, nem retinha já certos gestos de ternura a mim dirigidos, na presença do próprio Ricardo!

Todo eu tremia, mas o poeta nunca os estranhava - nunca os via; ou, se os via, era só para se rir, para os acompanhar.

Assim, uma tarde de verão, lanchávamos no terraço, quando Marta de súbito - num gesto que, em verdade, se poderia tomar por uma simples brincadeira agarotada - me mandou beijá-la na fronte, em castigo de qualquer coisa que eu lhe dissera.

Hesitei, fiz-me muito vermelho; mas como Ricardo insistisse, curvei-me trémulo de medo, estendi os lábios mal os pousando na pele…

E Marta:

- Que beijo tão desengraçado! Parece impossível que ainda não saiba dar um beijo… Não tem vergonha? Anda, Ricardo, ensina-o tu…

Rindo, o meu amigo ergueu-se, avançou para mim… tomou-me o rosto… beijou-me…

* * *

O beijo de Ricardo fora igual, exatamente igual, tivera a mesma cor, a mesma perturbação que os beijos da minha amante.

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Capa do livro A Confissão de Lúcio
Páginas: 93
Página atual: 62

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A CONFISSÃO DE LÚCIO 1
PREFÁCIO 2
CAPÍTULO 1 4
CAPÍTULO 2 22
CAPÍTULO 3 40
CAPÍTULO 4 51
CAPÍTULO 5 57
CAPÍTULO 6 64
CAPÍTULO 7 81
CAPÍTULO 8 90