torres de luar… pobres catedrais de neblina…
* * *
Por este tempo, houve também uma época muito interessante na minha crise que não quero deixar de mencionar: durante ela eu pensava muito no meu caso, mas sem de forma alguma me atribular - friamente. desinteressadamente, como se esse caso se não desse comigo.
E punha-me sobretudo a percorrer o começo da nossa ligação. De que modo se iniciara ela? Mistério… Sim, por muito estranho que pareça, a verdade é que eu me esquecera de todos os pequenos episódios que a deviam forçosamente ter antecedido. Pois decerto não começáramos logo por beijos, por carícias viciosas - houvera sem dúvida qualquer coisa antes, que hoje não me podia recordar.
E o meu esquecimento era tão grande que, a bem dizer, eu não tinha a sensação de haver esquecido esses episódios: parecia me impossível recordá-los, como impossível é recordarmo-nos de coisas que nunca sucederam.
Mas estas bizarrias não me dilaceravam, repito: durante esta época eu examinei-me sempre de fora, num deslumbramento - num deslumbramento lúcido, donde provinha o meu alívio atual.
E só me lembrava - conforme narrei - do primeiro encontro das nossas mãos, do nosso primeiro beijo… Nem de tanto, sequer. A verdade simples era esta: eu sabia apenas que devera ter havido seguramente um primeiro encontro de mãos, uma primeira mordedura nas bocas… como em todos os romances…
Quando a saudade desse primeiro beijo me acudia mais nítida - ele surgia-me sempre como se fora a coisa mais natural, a menos criminosa, ainda que dado na boca… Na boca? Mas é que eu nem mesmo disso estava seguro. Pelo contrário: era até muito possível que esse beijo mo tivessem dado na face - como o beijo de Ricardo, o beijo semelhante aos de Marta…
Meu