Mas sempre encontrava Ricardo. Marta não aparecia senão ao jantar… E eu, na minha incrível timidez, nunca perguntava por ela - esquecia-me mesmo de o fazer, como se não fosse para isso só que viera procurar o meu amigo àquela hora…
Porém, um dia o poeta admirou-se das minhas visitas intempestivas, do ar febril com que eu chegava e, desde então, nunca mais ousei repetir essas experiências, aliás inúteis.
Decidi espioná-la.
Uma tarde tomei um coupé e, descidas as cortinas, mandei-o parar perto de sua casa… Esperei algum tempo. Por fim ela saiu. Ordenei ao cocheiro que a seguisse a distância…
Marta tomou por uma rua transversal, dobrou à esquerda, enveredou por uma avenida paralela àquela em que habitava e onde as construções eram ainda raras. Dirigiu-se a um pequeno prédio de azulejos verdes. Entrou sem bater…
* * *
Ah! como eu sofria! como eu sofria!… Fora buscar a prova evidente de que ela tinha outro amante… Louco que eu era em a ter ido procurar… Hoje, nem mesmo que quisesse, me poderia já iludir…
E como eu me enganara outrora pensando que não seria sensível à traição carnal de uma minha amante, que pouco me faria que ela pertencesse a outros…
* * *
Começou então a última tortura…
Num grande esforço baldado, procurei ainda olvidar-me do que descobrira - esconder a cabeça debaixo dos lençóis como as crianças, com medo dos ladrões, nas noites de inverno.
Ao entrelaçá-la, hoje, debatia-me em êxtases tão profundos, mordia-a tão sofregamente, que ela uma vez se me queixou.
Com efeito, sabê-la possuída por outro amante - se me fazia sofrer na alma, só me excitava, só me contorcia nos desejos…
Sim! sim! - laivos de roxidão! - aquele corpo esplêndido, triunfal, dava-se a três homens - três machos