A Confissão de Lúcio - Cap. 8: CAPÍTULO 6 Pág. 68 / 93

Mas sempre encontrava Ricardo. Marta não aparecia senão ao jantar… E eu, na minha incrível timidez, nunca perguntava por ela - esquecia-me mesmo de o fazer, como se não fosse para isso só que viera procurar o meu amigo àquela hora…

Porém, um dia o poeta admirou-se das minhas visitas intempestivas, do ar febril com que eu chegava e, desde então, nunca mais ousei repetir essas experiências, aliás inúteis.

Decidi espioná-la.

Uma tarde tomei um coupé e, descidas as cortinas, mandei-o parar perto de sua casa… Esperei algum tempo. Por fim ela saiu. Ordenei ao cocheiro que a seguisse a distância…

Marta tomou por uma rua transversal, dobrou à esquerda, enveredou por uma avenida paralela àquela em que habitava e onde as construções eram ainda raras. Dirigiu-se a um pequeno prédio de azulejos verdes. Entrou sem bater…

* * *

Ah! como eu sofria! como eu sofria!… Fora buscar a prova evidente de que ela tinha outro amante… Louco que eu era em a ter ido procurar… Hoje, nem mesmo que quisesse, me poderia já iludir…

E como eu me enganara outrora pensando que não seria sensível à traição carnal de uma minha amante, que pouco me faria que ela pertencesse a outros…

* * *

Começou então a última tortura…

Num grande esforço baldado, procurei ainda olvidar-me do que descobrira - esconder a cabeça debaixo dos lençóis como as crianças, com medo dos ladrões, nas noites de inverno.

Ao entrelaçá-la, hoje, debatia-me em êxtases tão profundos, mordia-a tão sofregamente, que ela uma vez se me queixou.

Com efeito, sabê-la possuída por outro amante - se me fazia sofrer na alma, só me excitava, só me contorcia nos desejos…

Sim! sim! - laivos de roxidão! - aquele corpo esplêndido, triunfal, dava-se a três homens - três machos





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