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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 184

- Pois bem! Considera-o da seguinte maneira: há necessidade para o ouvido e para a voz de alguma coisa de espécie diferente para que um ouça e a outra seja ouvida, de modo que, se este terceiro elemento vier a faltar, o primeiro não ouça e a segunda não seja ouvida?

- De modo nenhum - disse ele.

- E julgo que muitas outras faculdades, para não dizer todas, não têm necessidade de nada semelhante. Ou podes citar-me alguma?

- Não - respondeu.

- Mas não sabes que a faculdade de ver e ser visto tem necessidade disso? -Como?

- Admitindo que os olhos são dotados da faculdade de ver, que aquele que possui esta faculdade procura servir-se dela e que os objectos a que a aplica são coloridos, se não intervier um terceiro elemento, sabes que a vista não captará nada e as cores serão invisíveis?

- A que elemento te referes? - perguntou?

- Aquele a que chamas luz - respondi.

- Tens razão.

- Assim, o sentido da vista e a faculdade de ser visto estão unidos por um laço incomparavelmente mais precioso do que o que forma as outras uniões, contanto que a luz não seja desprezada.

- Mas com certeza, está-se muito longe de a desprezar!

- Qual é, então, de todos os deuses do céu, aquele que podes designar como o senhor disto, aquele cuja luz permite que os nossos olhos vejam da melhor maneira possível e que os objectos visíveis sejam vistos?

- O mesmo que tu designarias, assim como toda a gente; porque é, evidentemente, o Sol que tu me pedes que nomeie.

- Agora, não está a vista, pela sua natureza, nesta relação com esse deus?

- Que relação?

- Nem a vista é o Sol, nem o órgão em que ela se forma e a que chamamos olho.

- Por certo que não.

- Mas, de todos os órgãos dos sentidos, o olho é, creio eu, o que mais se assemelha ao Sol. - De longe.

- Pois bem! A força que possui não lhe vem do Sol, como uma emanação deste?

- Certamente.

- Portanto, o Sol não é a vista, mas, sendo o seu princípio, é apercebido por ela.

- Sim, é - disse ele.

- Fica, pois, sabendo que é a ele que eu chamo filho do bem, que o bem engendrou igual a si mesmo. O que o bem é, no campo da inteligência em relação ao pensamento e aos seus objectos, o Sol é-o no campo do visível, em relação à vista e aos seus objectos.

- Como? - perguntou. - Explica-me isso.

- Sabes - respondi - que os olhos, quando se voltam para objectos cujas cores já não são iluminadas pela luz do dia, mas pela claridade dos astros nocturnos, perdem a acuidade e parecem quase cegos, como se não fossem dotados de visão clara.

- Sei-o muito bem.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 184

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265