- Creio que omitirei muitas coisas. No entanto, não omitirei deliberadamente tudo o que puder dizer neste momento.
-Está bem.
- Concebe então que há doireis, reinando um sobre o género e o campo do inteligível e o outro do visível: não digo do céu, com receio de que penses que brinco com as palavras. Mas imaginas estes dois géneros, o visível e o inteligível?
- Imagino.
- Pega então numa linha cortada em dois segmentos desiguais, representando um o género visível, o outro o inteligível, e corta de novo cada segmento segundo a mesma proporção; terás então, classificando as divisões obtidas de acordo com o seu grau relativo de clareza ou de obscuridade, no mundo visível, um primeiro segmento, o das imagens - chamo imagens primeiramente às sombras, depois aos reflexos que se vêem nas águas ou na superfície dos corpos opacos, polidos e brilhantes, e a todas as representações semelhantes; estás a compreender?
- É claro que sim.
- Supõe agora que o segundo segmento corresponde aos objectos que essas imagens representam, ou seja, os animais que nos cercam, as plantas e todas as obras de arte.
- Estou a supor.
- Consentes também em dizer - perguntei - que, no que respeita à verdade e ao seu contrário, a divisão foi feita de tal modo que a imagem está para o objecto que reproduz como a opinião está para a ciência?
- Consinto inteiramente.
- Examina agora como se deve dividir o mundo inteligível.
- Como?
- De tal modo que, para chegar a uma das suas partes, a alma seja obrigada a servir-se, como de outras tantas imagens, dos originais do mundo visível, derivando, a partir de hipóteses, não para um princípio, mas para uma conclusão; ao passo que para chegar à outra - que conduz a um princípio anipotético - deverá, partindo de uma hipótese e sem o socorro das imagens utilizadas no primeiro caso, orientar a sua pesquisa unicamente com a ajuda das ideias tomadas em si mesmas.
- Não compreendo inteiramente o que dizes.