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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 192

- Compartilho a tua opinião - disse ele -, na medida do possível.

- Pois bem! Compartilha-a também neste ponto e não te admires se aqueles que se elevaram a tais alturas desistem de se ocupar das coisas humanas e as suas almas aspiram sem cessar a instalar-se nas alturas. Isto é muito natural, se a nossa alegoria for exacta.

- Com efeito, é muito natural - disse ele.

- Mas como? Achas espantoso que um homem que passa das contemplações divinas às miseráveis coisas humanas revele repugnância e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e não estando suficientemente acostumado às trevas circundantes, é obrigado a entrar em disputa, perante os tribunais ou em qualquer outra parte, sobre sombras de justiça ou sobre as imagens que projectam essas sombras, e a combater as interpretações que disso dão os que nunca viram a justiça em si mesma?

- Não há nisso nada de espantoso.

- Efectivamente - prossegui -, um homem sensato lembrar-se-á de que os olhos podem ser perturbados de duas maneiras e por duas causas opostas: pela passagem da luz à escuridão e pela da escuridão à luz; e, tendo reflectido que o mesmo se passa com a alma, quando encontrar uma perturbada e embaraçada para discernir certos objectos, não se rirá tolamente, mas antes examinará se, vinda de uma vida mais luminosa, ela está, por falta de hábito, ofuscada pelas trevas ou se, passando da ignorância à luz, está deslumbrada pelo seu brilho demasiado vivo; no primeiro caso, considerá-la-á feliz, em virtude do que ela sente e da vida que leva; no segundo, lamentá-la-á e, se quisesse rir à sua custa, as suas zombarias seriam menos ridículas do que se se dirigissem à alma que regressa da mansão da luz.

- É o que se chama - disse ele - falar com muita sabedoria.

- Se tudo isto é verdadeiro, temos de concluir o seguinte: a educação não é o que alguns proclamam que é, porquanto pretendem introduzi-la na alma, onde ela não está, como quem tentasse dar vista a olhos cegos.

- Efectivamente, pretendem.

- Ora - prossegui -, o presente discurso demonstra que cada um possui a faculdade de aprender e o órgão destinado a este uso e que, semelhante a olhos que só poderiam voltar-se com todo o corpo das trevas para a luz, esse órgão deve também afastar-se com toda a alma do que nasce, até que se torne capaz de suportar a vista do ser e do que há de mais luminoso no ser; e a isto chamamos o bem, não é verdade?

- É.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 192

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265