Foi a vez de Adimanto perguntar:
— Não sabeis que se realiza esta noite uma corrida com archotes, a cavalo, em honra da deusa?
— A cavalo! — exclamei. — Isso é novo. Os corredores que levam os archotes passam-nos uns aos outros e disputam o prémio a cavalo? É o que queres dizer?
— É — respondeu Polemarco. — Além disso, celebrar-se-á uma festa nocturna que vale a pena ser vista; sairemos depois do jantar para assistirmos a essa festa. Encontraremos lá vários jovens e conversaremos. Ficai e fazei como nós.
E Gláucon:
— Parece que temos de ficar.
— Se parece — repliquei —, é assim que temos de fazer.
Fomos para casa de Polemarco e aí encontramos Lísias e Eutidemo, os seus irmãos , Trasímaco de Calcedónia, Carmântides de Peneia e Clitofonte, filho de Aristónimo. Também lá estava o pai de Polemarco, Céfalo. E pareceu-me muito velho, porquanto não o via há muito tempo. Estava sentado numa cadeira almofadada e tinha uma coroa na cabeça, porque acabava de proceder a um sacrifício no pátio. Sentámo-nos junto dele, em cadeiras que se encontravam ali, dispostas em círculo.
Assim que me viu, Céfalo cumprimentou-me e disse:
— Não vens muito ao Pireu, Sócrates, para nos visitar. Contudo, devias fazê-lo; pois, se eu tivesse ainda forças para ir facilmente à cidade, não terias necessidade de vir aqui: iríamos nós a tua casa. Mas, agora, é a ti que compete vir cá mais vezes. Fica sabendo que, para mim, quanto mais se desvanecem os prazeres do corpo tanto mais aumentam o desejo e o prazer da conversação. Portanto, faz como todos: reúne-te a estes jovens e vem aqui como a casa de amigos muito íntimos.