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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 278

- Mas como? - perguntei. - Não há nada que torne a alma má?

- Sim - respondeu -, há todos os vícios que enumerámos: a injustiça, a intemperança, a cobardia, a ignorância.

- Ora, será que um desses vícios a dissolve e a perde? Vê que não nos enganamos ao julgar que o homem injusto e insensato, apanhado em flagrante delito de crime, é perdido pela injustiça, sendo esta o mal da alma. Encara antes o assunto desta maneira. A doença, que é o vício do corpo, mina-o, destrói-o e redu-lo a já não ser corpo; e todas as coisas de que falávamos há momentos, devido ao seu próprio vício, que se instala nelas e as destrói, acabam no aniquilamento, não é assim?

-É.

- Pois bem! Considera a alma da mesma maneira. É verdade que a injustiça ou qualquer outro vício, ao instalar-se nela, a corrompe e fez mirrar até a levar à' morte e separá-la do corpo?

- De modo nenhum.

- Por outro lado, seria absurdo pretender que um mal estranho destrói

uma coisa que o seu próprio mal não pode destruir. - Sim, absurdo.

- Atende, Gláucon, a que a má qualidade dos alimentos, que é o seu

vício próprio - seja falta de frescura, podridão ou qualquer outra deterioração -, não é, segundo nós, o que deve destruir o corpo; se a má qualidade dos alimentos originar no corpo o mal que lhe é próprio, diremos que no momento da alimentação o corpo pereceu por causa da doença, que é propriamente o seu mal; mas que tenha sido destruído pelo vício dos alimentos, que são uma coisa, ao passo que ele é outra, isto é, por um mal estranho que não teria originado o mal ligado à sua natureza, eis o que nunca acreditaremos.

- Muito bem - disse ele.

- Pela mesma razão - prossegui -. -, se a doença do corpo não origina

na alma a doença da alma, nunca acreditemos que a alma seja destruída por um mal estranho, sem a intervenção do mal que lhe é próprio - como se uma coisa pudesse ser destruída pelo mal de outra. - O teu raciocínio está certo.

- Assim, refutemos estas proves como falsas, ou então, enquanto não forem refutadas, evitemos dizer que a febre, ou qualquer outra doença, ou o ferro - mesmo que o corpo fosse cortado em pedacinhos -, podem contribuir pare a ruína da alma; a não ser que nos demonstrem que o efeito destes acidentes do corpo é tornar a alma mais injusta e ímpia; mas, quando um mal estranho aparece numa coisa, sem que a ele se junte o mal particular, não deixemos que se diga que essa coisa pode morrer disso.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 278

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265