— Que te importa — replicou — que seja ou não a minha opinião? Limita-te a refutar-me.
— Com efeito, não me importa — confessei. — Mas vê se respondes a mais isto: parece-te que o homem justo procura prevalecer de algum modo sobre o homem justo?
— De modo nenhum — disse ele —, pois que não seria delicado e simples como é.
— Como! Nem mesmo numa acção justa?
— Nem mesmo nisso.
— Mas pretenderia prevalecer sobre o homem injusto e pensaria ou não fazê-lo justamente?
— Pensá-lo-ia — respondeu — e pretendê-lo-ia, mas não o poderia.
— Não foi isso que perguntei: quero saber se o justo não teria nem a pretensão nem o desejo de prevalecer sobre o justo, mas somente sobre o injusto.
— Assim é — disse ele.
— E o injusto pretenderia prevalecer sobre o justo e a acção justa?
— Como não havia de querer, ele, que pretende prevalecer sobre todos?
— Portanto, prevalecerá sobre o homem e a acção injusta e lutará para prevalecer sobre todos?
— É isso.
— Resumindo: o justo não prevalece sobre o seu semelhante, mas sobre o seu contrário; o injusto prevalece sobre o seu semelhante e o seu contrário
— Excelentemente expresso — disse ele.