— Expliquemo-nos: vês por outro sítio sem ser pelos olhos?
— Por certo que não.
— É ouves por outro sítio sem ser pelos ouvidos?
— De modo nenhum.
— Por conseguinte, podemos afirmar que são essas as funções desses órgãos.
— Sem dúvida.
— Mas como! Não poderias cortar uma vara de vide com uma faca, um trinchete e muitos outros instrumentos?
— Porque não?
— Mas com nenhum, julgo eu, tão bem como uma podoa, que é feita para isso
— É verdade.
— Portanto, não indicaremos que é essa a sua função?
— Por certo que indicaremos.
— Creio que agora compreendes melhor o que dizia há pouco, quando te perguntava se a função de uma coisa não é o que ela pode fazer ou o que ela faz melhor do que os outros.
— Compreendo — disse ele — e parece-me que é realmente essa a função de cada coisa.
— Bom. Mas não há também uma virtude em cada coisa a que é atribuída uma função? Voltemos aos exemplos precedentes: os olhos têm uma função?
— Têm.