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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 59

- Perfeitamente.

- Esses assalariados constituem, parece-me, O complemento da cidade.

- É a minha opinião.

- Pois bem, Adimanto, a nossa cidade não recebeu acrescentos suficientes para ser perfeita?

-Talvez.

- Então, onde encontraremos a justiça e a injustiça? Com qual dos elementos que examinámos é que elas apareceram?

- Quanto a mim - respondeu -, não o sei, Sócrates, a não ser que fosse nas relações mútuas dos cidadãos.

- Talvez tenhas razão - disse eu. - Mas temos de o analisar, sem desânimo.

»Comecemos por considerar como vão viver as pessoas assim organizadas. Não produzirão trigo, vinho, roupas, calçado? Não construirão casas? Durante o Verão, trabalharão a maior parte do tempo nus e descalços, durante o Inverno vestidos e calçados convenientemente. Para se alimentar, prepararão farinhas de cevada e frumento, cozendo umas, limitando-se a amassar outras; disporão os seus nobres bolos folhados e os seus pães em ramos ou folhas frescas e, deitados em leitos de folhagem, feitos de colubrina e de murta, regalar-se-ão eles e os seus filhos, bebendo vinho, com a cabeça coroada de flores, e cantando louvores aos deuses; passarão assim agradavelmente a vida juntos e regularão o número de filhos pelos seus recursos, com medo da pobreza ou da guerra.

Então, Gláucon interveio:

- É com pão seco, parece, que fazes esses homens banquetear-se.

- Tens razão - repliquei. - Tinha-me esquecido da comida; terão sal, evidentemente, azeitonas, queijo, cebolas e esses legumes cozidos que se preparam no campo. Como sobremesa, servir-lhes-emos figos, ervilhas e favas; farão grelhar na cinza bagas de murta e bolotas, que comerão, bebendo moderadamente. Assim, vivendo em paz e com saúde, morrerão velhos, como é natural, e legarão aos filhos uma vida semelhante à deles.

- Se fundasses uma cidade de porcos, Sócrates - disse ele -, engordá-los-ias de modo diferente?

- Mas então, Gláucon, como devem viver? - perguntei.

- Como se o entende geralmente - respondeu. - É preciso que se deitem em camas, penso eu, se quiserem sentir-se confortáveis, que comam em mesas e que lhes sejam servidos os pratos e as sobremesas hoje conhecidos.

- Seja - disse eu -, compreendo. Já não é só uma cidade em formação que examinamos, mas também uma cidade cheia de luxo. Talvez o processo não seja mau; com efeito, é possível que um tal estudo nos faça ver como a justiça e a injustiça nascem nas cidades.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 59

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265