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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 65

- São - repliquei - as de Hesíodo, Homero e outros poetas. Com efeito, estes compuseram fábulas mentirosas que foram e continuam a ser contadas aos homens.

- Quais são essas fábulas - perguntou - e que lhes censuras?

- O que se deve - respondi - acima de tudo e sobretudo censurar, particularmente quando a mentira é sem beleza. - Mas quando o é?

- Quando se representam mal os deuses e os heróis, como um pintor

que desenha objectos sem qualquer semelhança com os que pretendia representar.

- É com razão, efectivamente - disse ele -, que se censuram tais coisas. Mas como dizemos isso e a que nos referimos?

- Em primeiro lugar - prossegui -, aquele que consumou a maior das mentiras sobre os maiores dos seres consumou-a sem beleza, quando disse que Úrano fez o que refere Hesíodo e como Cronos se vingou. Mesmo que o comportamento de Cronos e a maneira como foi tratado pelo filho fossem verdadeiros, julgo que não deviam ser narrados tão ligeiramente a seres desprovidos de razão e a crianças, mas que seria preferível enterrá-los no silêncio; e, se é necessário falar nisso, deve-se fazê-lo em segredo, diante do menor número possível de ouvintes, depois de ter imolado, não um porco, mas uma vítima grande difícil de conseguir, a fim de que haja muito poucos iniciados.

- E, com efeito - disse ele -, essas histórias são enfadonhas.

- E não devem ser contadas, Adimanto, na nossa cidade. Não se deve dizer diante de um jovem ouvinte que, cometendo os piores crimes e castigando um pai injusto da forma mais cruel, não faz nada de extraordinário e age como os primeiros e os maiores dos deuses.

- Não, por Zeus! - exclamou. -Também a mim não me parece que se devam dizer essas coisas!

- Deve-se também evitar absolutamente - continuei - dizer que os deuses fazem guerra aos deuses, armam ciladas e combatem entre sio que também não é verdade -, se quisermos que os futuros guardas da nossa cidade considerem o cúmulo da vergonha altercar levianamente. E ainda menos se lhes deve contar ou representar para eles em tapeçarias os combates dos gigantes e esses ódios incontáveis e de toda a espécie que armaram os deuses e os heróis contra os seus parentes e amigos. Pelo contrário, se quisermos persuadi-los de que nunca um cidadão odiou outro e que tal coisa é ímpia, devemos fazer-lho dizer, desde a infância, pelos velhos e velhas e, quando se tornarem adultos, obrigar os poetas a compor para eles fábulas que tendam para o mesmo objectivo.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 65

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265