— É verdade — confessou.
— Ao que parece, Simónides entende outra coisa quando diz que é justo restituir o que se deve.
— Outra coisa, com certeza, por Zeus! — respondeu. — É que ele pensa que se deve fazer bem aos amigos, mas não mal.
— Compreendo — retorqui — que não é restituir a alguém o que se lhe deve entregar-lhe o ouro que nos confiou, se a restituição e a retomada o prejudicarem e se o que retoma e o que restitui forem amigos. Não é assim que, na tua opinião, o entende Simónides?
— Perfeitamente.
— Mas como? Deve-se restituir aos inimigos o que se julga dever -lhes?
— Certamente—respondeu ele —, o que lhes é devido; e é-lhes devida penso eu, o que é próprio de inimigo para inimigo, isto é, o mal.
— Por enigmas, portanto — repliquei —, à maneira dos poetas, Simónides parece ter definido a justiça. Pois parece que ele considerava justo restituir a cada um o que lhe é próprio, mas declarava o que é devido.
— Pois bem! Que pensas disso? — perguntou.
— Por Zeus! — respondi. — Se alguém lhe perguntasse: «Simónides, a quem e que é que dá, de devido e de próprio, a arte chamada medicina?», que julgas que ele responderia?
— Evidentemente — respondeu — que dá ao corpo os remédios, os alimentos e as bebidas.
— E a quê e que é que dá, de devido e de próprio, a arte da cozinha? — Aos pratos os temperos.