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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 91

- A sua arte prestou-lhe um belo serviço! - exclamou.

- Merecia-o bem - retorqui -, por não ter visto que, se Asclépio não ensinou esta espécie de medicina aos seus descendentes, não foi nem por ignorância nem por inexperiência, mas porque sabia que, numa cidade bem governada, cada um tem uma tarefa fixada que é obrigado a desempenhar e ninguém tem' tempo para passar a vida doente e a tratar-se. Sentimos o ridículo deste abuso nos artesões, mas não o sentimos nos ricos e nos que se pretendem felizes.

- Como? - inquiriu.

- Um carpinteiro doente - disse eu - pede ao médico que lhe dê um remédio que, por vomitório ou purga, evacue a sua doença ou então que lhe faça uma cauterização ou uma incisão que o liberte dela. Mas, se alguém lhe prescrever um longo regime, com ligaduras em volta da cabeça e o que se segue, diz logo que não tem tempo para estar doente, que não vê nenhuma vantagem em viver assim, ocupando-se unicamente da sua doença e desprezando o trabalho que tem diante de si. Em seguida, manda embora o médico e, retomando o regime habitual, recupera a saúde e vive exercendo o seu ofício; ou então, se o seu corpo não está em condições de resistir, a morte liberta-o.

- Aí está a medicina que parece convir a tal homem.

- Não é - retorqui - porque tem uma função a desempenhar e, se não a desempenha, não encontra nenhuma vantagem em viver?

- É evidente.

- Mas o rico, dizemos nós, não tem trabalho de que não possa abster-se sem que a vida lhe seja insuportável.

- É o que se supõe.

- Não ouves Focílides dizer que, contanto que se tenha com que viver; deve-se praticar a virtude?

- Penso que também se deve praticá-la antes.

- Não lhe contestemos este ponto; mas vejamos por nós mesmos se o rico deve praticar a virtude e se lhe é impossível viver sem ela ou se a mania de alimentar as doenças, que impede o carpinteiro e os outros artesãos de se entregarem ao seu ofício, não impede o rico de seguir o preceito de Focílides.

- Sim, por Zeusl - disse ele -, e nada talvez o impeça tanto como esse cuidado excessivo do corpo, que vai além do que admite a ginástica; com efeito, é incómodo nos assuntos domésticos, nas expedições militares e nos empregos sedentários da cidade.

- Mas o seu principal inconveniente está em tornar difícil qualquer estudo, qualquer reflexão ou meditação interior.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 91

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265