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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 93
Quanto a nós, de acordo com o que dissemos atrás, não acreditamos simultaneamente nestas duas asserções: se Asclépio era filho de um deus, não era, diremos nós, ávido de um lucro sórdido; e, se era ávido de um lucro sórdido, não era filho de um deus.

- Exactíssimo. Mas que dizes disto, Sócrates: devemos ter bons médicos na cidade? Ora, os bons médicos são, sobretudo, sem dúvida, os que trataram o maior número de indivíduos saudáveis e não saudáveis; de igual modo, os bons juízes são os que trataram de toda a espécie de indígenas.

- Com certeza - respondi - que são precisos bons juízes e bons médicos. Mas sabes quais são os que considero como tais?

- Sabê-lo-ei se mo disseres.

- Vou tentar; mas incluíste na mesma pergunta duas coisas diferentes.

- Como? - perguntou.

- Os médicos mais hábeis seriam os que, começando logo na infância a aprender a sua arte, tivessem tratado o maior número de corpos e os mais doentes, e que, não sendo eles próprios de uma compleição saudável, tivessem sofrido todas as doenças. Com efeito, não curam, creio eu, o corpo pelo corpo - caso contrário, não conviria que fossem ou viessem a ser doentes -, mas o corpo pela alma, e a alma que é ou se torna doença não pode tratar bem um mal, seja ele qual for.

- É verdade - disse ele.

- Mas o juiz, meu amigo, acciona a alma pela alma e não convém que a alma seja educada na companhia das almas perversas, nem que tenha percorrido a série de todos os crimes, com o único fim de poder, com acuidade, conjecturar por si mesma os crimes dos outros, como o médico conjectura as doenças do corpo; pelo contrário, é preciso que se tenha mantido ignorante e pura do vício, se se quer que, bela e boa, julgue rectamente o que é justo. Eis por que motivo as pessoas honradas se mostram simples na sua juventude e são facilmente enganadas pelos maus: não têm nelas modelos de sentimentos semelhantes aos dos perversos.

- Sim - disse ele -, é isso mesmo que lhes acontece.

- Do mesmo modo - prossegui -, o bom juiz não deveria ser novo, mas velho; é preciso que tenha aprendido tarde o que é a injustiça, que a tenha conhecido não albergando-a na sua alma, mas estudando-a longamente, como uma estranha, na alma dos outros, e que a ciência, e não a sua própria experiência, lhe faça sentir claramente o mal que ela constitui.

- Um homem assim - reconheceu - seria o mais nobre dos juízes.

- E seria o bom juiz que tu exigias - acrescentei -, dado que quem tem a alma boa é bom.

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Capa do livro A República
Páginas: 290
Página atual: 93

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 45
Capítulo 3 71
Capítulo 4 102
Capítulo 5 129
Capítulo 6 161
Capítulo 7 189
Capítulo 8 216
Capítulo 9 243
Capítulo 10 265