Nagaína, e, embora fosse muito agradável ser acariciado e amimado pela mãe de Teddy e empoleirar-se no ombro deste, de vez em quando inflamavam-se-lhe os olhos e ele soltava o seu prolongado grito de guerra «Rique- tique- tiqui- tiqui - tcheque».
Teddy levou-o dali para a cama e insistiu em que Riquí-Tíqui lhe dormisse sob o queixo. Ríqui-Tíqui era bem-criado de mais para ferrar ou arranhar, mas logo que Teddy adormeceu partiu para o seu passeio nocturno em volta da casa, e no escuro esbarrou com Chuchundra, o rato-almiscarado, que se arrastava ladeando a parede. Chuchundra é bichinho angustiado. Soluça e chia toda a noite, procurando animar-se a correr para o meio da sala, sem nunca lá chegar.
- Não me mates - disse Chuchundra, quase a chorar. Não me mates, Ríqui-Tíqui,
- Julgas que um matador de serpentes mata ratos-almiscarados? - respondeu Riqui-Tíqui com desdém.
- Quem mata serpentes é morto pelas serpentes - disse Chuchundra mais tristemente que nunca. - E como posso eu ter a certeza de que Nague não me tomará por ti numa destas noites escuras?
- Não há o mínimo perigo - disse Ríqui-Tíqui -, porque Nague anda no quintal e sei que nunca lá vais.
- Meu primo Cinta, o rato, disse-me... - disse Chuchundra. E interrompeu-se.
- Disse-te o quê?
- Pchiu! Nague está em toda a parte, Ríqui-Tíqui. Devias ter falado com Chua, no quintal.
- Não o fiz, portanto tens tu de mo dizer. Depressa Chuchundra, senão ferro-te!
Chuchundra sentou-se a chorar, até que as lágrimas lhe escorriam pelos bigodes.
- Sou um desgraçado - disse. - Nunca tive o ânimo suficiente de correr para o meio da sala. Pchiu! Não posso dizer-te nada. Tu não ouves, Ríqui-Tíqui?
Ríqui-Tíqui pôs-se a escutar. A casa estava em absoluto silêncio, mas pareceu-lhe discernir apenas um levíssimo raspe-raspe, um ruído tão apagado como o de uma vespa em passeio numa vidraça, o raspar seco das escamas de uma serpente nos tijolos.