«Ora, se o mato aqui Nagaína fica a sabê-lo; se o ataco em pleno soalho, a vantagem é dele. Que hei-de fazer?», pensou Ríqui-Tíqui-Távi.
Nague agitou-se de um lado para o outro, e depois Ríqui-Tíquí ouviu-o beber do jarro maior, que servia para encher a banheira.
- Que bom! - disse a cobra. - Ora, quando Caraite foi morta o homem grande trazia um pau. Pode trazê-lo ainda, mas quando entrar para o banho matutino não trará pau. Esperarei aqui até que ele venha. Nagaína, ouves-me? Vou aguardar aqui, à fresca, até que seja dia.
De fora não veio resposta, e Ríqui-Tíqui concluiu que Nagaína se afastara. Nague enroscou-se todo, rosca a rosca, em volta do bojo do fundo do jarro, e Ríqui-Tíqui conservou-se quieto como a morte. Passada uma hora, começou a mover-se músculo após músculo para o jarro. Nague estava a dormir e Ríqui-Tíqui contemplou-lhe o grande dorso, indagando qual seria o ponto para o segurar bem. «Se lhe não quebro a espinha no primeiro salto poderá ainda lutar, e, se lutar, ai de ti, Ríqui-Tíqui!» Observou a grossura do pescoço abaixo do capelo, mas aquilo era de mais para ele, e uma ferradela perto da cauda só serviria para enfurecer Nague.
- Tem de ser na cabeça - disse por fim -, na cabeça acima do capelo, e, uma vez que ali esteja, não a posso largar.
Então saltou. A cabeça estava um nadinha separada do jarro, abaixo da curva deste, e ao cerrar os dentes Ríqui apoiou as costas ao bojo do vaso de barro vermelho, para segurar a cabeça para baixo. Isto deu-lhe uma duplicação de força de um segundo, que aproveitou ao máximo. Depois foi sacudido de um lado para o outro da maneira que um rato é sacudido por um cão - de um lado para o outro no chão, de baixo para cima e em grandes círculos em redor, mas tinha os olhos vermelhos e segurou-se bem ao mesmo tempo que o corpo era fustigado para o chão, virando a concha de estanho, a saboneteira e a escova de banho, e martelado contra a parede da banheira.