O Livro da Selva - Cap. 5: RÍQUI -TÍQUI -TÁVI Pág. 108 / 158

- Tudo isso é bem verdade, mas onde está Nagaína? perguntou Ríqui-Tíqui, olhando cautelosamente em redor.

- Nagaína foi ao cano de descarga da banheira e chamou por Nague - continuou Darzi -, e Nague saiu na ponta de uma vara, o varre dor apanhou-o com a ponta de uma vara e atirou-o para a lixeira. Cantemos em louvor do grande Ríqui-Tíqui de olhos rubros! - E Darzi encheu a garganta e pôs-se a gorjear.

- Se pudesse chegar-te ao ninho deitava-te todos os miúdos fora! - disse Ríqui-Tíquí. - Nunca sabes fazer o que convém no momento próprio. Estás seguro aí no teu ninho, mas para mim a guerra é cá em baixo. Pára de cantar durante um minuto, Darzi.

- Por amor do grande, do belo Ríqui-Tíquí, pararei respondeu Darzi - Que queres, ó matador do terrível Nague? - Onde está Nagaína? Pela terceira vez te pergunto.

- Na lixeira junto à estrebaria, a prantear Nague. Grande é Ríqui-Tíqui, o dos dentes brancos!

- Macacos me levem os dentes brancos! Ouviste dizer onde tem ela os ovos?

- No canteiro dos melões, na ponta mais próxima da parede, onde o sol dá quase todo o dia. Há semanas que lá os ocultou. - E nunca pensaste que era conveniente dizer-mo? Na ponta mais perto da parede, disseste?

- Ríqui-Tíqui, tu não vais comer-lhe os ovos?!

- Comê-los não é bem, não. Darzi, se tens um grão de juizo, vais voar para a estrebaria a fingir que tens a asa partida, e deixa que Nagaína te persiga até este arbusto. Preciso de chegar ao canteiro dos melões, e, se fosse para lá agora, ela ver-me-ia.

Darzi era um imbecilzinho, jamais capaz de conservar mais de uma ideia na cabecinha, e, só porque sabia que os filhinhos de Nagaína nasciam de ovos como os seus, não julgava, a princípio, que fosse justo matá-los. Mas a sua mulher era uma avezinha sensata, que sabia que os ovos da cobra dariam cobrinhas mais tarde; portanto, voou do ninho, deixando Darzi a manter o calor aos bebés e a continuar o seu hino sobre a morte de Nague.





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