Dois Rabos esquivava-se e guinchava.
- Vai-te daqui, cãozinho! - dizia. - Não me cheires os tornozelos senão dou-te um coice. Bonito cãozinho, 'lindo cãozinho, vá! Vai para casa, brutinho latidor! Oh! Porque não ma tiram daqui? Não tardará a ferrar-me.
- Parece-me - disse Biddy para o cavalo do regimento que o nosso amigo tem medo a muita coisa. Ora, se me dessem uma refeição completa por cada cão que, aos coices, tenho afugentado da parada, estaria quase tão gorda como Dois Rabos.
Assobiei e a Raposinha correu para mim, toda enlameada, lambeu-me o nariz e contou-me uma longa história de me ter procurado por todo o acampamento. Nunca lhe deixei perceber que entendia a fala dos brutos, senão ela teria tomado toda a casta de liberdades. Por isso meti-a no peito do sobretudo e abotoei-o, e Dois Rabos agitava-se, pateava e resmungava consigo.
- Extraordinário! Extraordinaríssimo! - dizia. - É coisa de família. Ora, onde se terá metido aquele horrível bichinho?
Senti-o andar a apalpar com a tromba.
- Parece que todos somos afectados de várias maneiras continuou, assoando-se. - Ora vós, cavalheiros, assustastes-vos, creio eu, quando urrei.
- Não foi bem assustarmo-nos - disse então o cavalo do regimento -, mas deu-me a impressão de ter vespões no sítio onde devia ter a sela. Não tornes a começar.
- Eu assusto-me à vista de um cãozinho, e aqui o camelo assusta-se com os maus sonhos que tem de noite.
- Temos muita sorte em não sermos todos obrigados a combater do mesmo modo - disse o cavalo.
- O que eu desejo saber - suplicou a mula nova, que estava calada havia muito -, o que eu quero saber é por que razão havemos nós de combater.
- Porque nos mandam - respondeu o cavalo do regimento, com um ronco de desdém.
