O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 19 / 158

Enxotou a caça ao nosso encontro. Não violou palavra da Lei da Selva.

- Também paguei por ele um touro, quando foi admitido.

O valor de um touro não é grande, mas a honra de Bàguirà é coisa por que ela talvez se bata - disse Bàguirà em tom melífluo.

- Um touro pago há dez anos! - rosnou a alcateia. - Que se nos dá a nós de ossos de há dez anos?

- Ou de um penhor? - disse Bàguirà, mostrando os dentes brancos abaixo do lábio. - Com razão vos chamais a gente livre! - Nenhum cachorro de homem pode andar com os habitantes da Selva - uivou Xer Cane. - Dai-mo.

- É nosso irmão em tudo, excepto no sangue - continuou Àquêlà. - E quereis matá-lo aqui! Na verdade, já vivi de mais. Alguns de vós sois devoradores de gado, e de outros ouvi dizer que, ensinados por Xer Cane, ides em noites escuras apanhar crianças às portas das casas da aldeia. Sei assim que sois cobardes e é a cobardes que falo. É certo que tenho de morrer e a minha vida nada vale, aliás, oferecê-la-ia pela do cachorro de homem. Mas pela honra da Alcateia, pequena coisa que na falta de chefe esquecestes, prometo que, se deixardes abalar o cachorro de homem para a sua terra, quando chegar a minha vez de morrer não abrirei dente contra vós. Morrerei sem lutar, facto que poupará à alcateia pelo menos três vidas. Mais não posso fazer, mas, se quiserdes, posso poupar-vos à vergonha de matardes um irmão contra o qual não há acusação - irmão afiançado e comprado para a alcateia, de harmonia com a Lei da Selva.

«É homem - homem - homem!», rosnou a alcateia. E a maioria dos lobos começou a juntar-se à volta de Xer Cane, que começava a agitar a cauda.

- Agora o resto é contigo - disse Bàguirà para Máugli. - Nós nada podemos fazer senão lutar.

Máugli ergueu-se a toda a sua altura, com a panela de fogo nas mãos.





Os capítulos deste livro