- Que é isto? Que é que eu tenho? - perguntou. - Não quero abandonar a Selva, e não sei o que isto é. Vou morrer, Bàguirà?
- Não, irmãozinho. São apenas as lágrimas próprias dos homens - disse Bàguirà. - Sei agora que és homem e deixaste de ser cachorro de homem. Doravante a Selva está-te de facto interdita. Deixa-as correr, Máugli. São lágrimas apenas. - E Máugli deixou-se ficar a chorar como se o coração lhe estalasse, e nunca na sua vida chorara.
- Agora - disse -, vou ter com os homens. Mas antes disso preciso dizer adeus a minha Mãe. - E dirigindo-se para o covil onde ela vivia com Pai Lobo, chorou-lhe sobre o pêlo, enquanto os quatro lobitos uivavam desesperadamente. - Não vos esquecereis de mim? - disse Máugli.
- Nunca, enquanto formos capazes de seguir uma pista disseram os lobitos. - Vem ao sopé do monte quando fores homem, e falar-te-emos; e iremos para as terras de semeadura a brincar contigo de noite.
- Vem depressa! - disse Pai Lobo. - Ó rãzinha ajuizada, volta depressa, porque já estamos velhos, eu e a tua mãe.
- Não te demores - disse Mãe Loba -, meu filho nuzinho, porque, ouve bem, filho de homem, tive-te mais amor do que a qualquer dos meus lobitos.
- Com certeza virei - disse Máugli -, e quando vier será para estender a pele de Xer Cane sobre a rocha do conselho. Não vos esqueçais de mim! Dizei aos da Selva que nunca me esqueçam!
Começava a romper a alvorada quando Máugli desceu a encosta sozinho, ao encontro daqueles seres misteriosos que se chamam homens.
CANTO DE CAÇA DA ALCATEIA DE SEIÔUNI
Ao romper da manhã, o sâmbar urrou
Uma, duas e três vezes!
E uma corça rompeu de salto ousado
Da floresta ao charco onde ceia o veado.
Cena que eu vi, sozinho, explorando,
Uma, duas e três vezes!
Ao romper da manhã, o sâmbar urrou
Uma, duas e três vezes!
E um lobo fugiu, em marcha tão furtiva,
Pondo de aviso a alcateia, em expectativa.
