- Não tem, pois, que-temer ninguém concluiu Bálu, dando, com ufania, palmadinhas no ventre peludo.
- Menos a sua própria tribo - disse Bàguirà em voz sumida. E depois alto, para Máugli: - Tem pena das minhas costelas, irmãozinho! Para que andas tu a dançar de um lado para o outro?
Máugli estivera a tentar fazer-se ouvir puxando pelos pêlos da espádua a Bàguirà, e esporeando-a fortemente com os pés. Quando os dois lhe deram atenção, bradava ele a toda a força: - E agora vou ter a minha tribo, para a guiar pelas ramarias durante o dia inteiro.
- Que nova loucura é essa, sonhador arrebatado? perguntou Bàguirà.
- Sim, e atirarei ramos e lixo ao velho Bálu - continuou Máugli. - Assim mo prometeram. Ah!
- Uff! - com a sua enorme pata Bálu arrebatou Máugli de cima de Bàguirà e, enquanto lhe jazia entre as grandes patas dianteiras, o rapaz viu que o urso estava zangado.
- Máugli - disse Bálu -, estiveste a falar com os Bândarlougue, o povo dos macacos.
Máugli olhou para Bàguirà, a ver se a pantera estava também zangada, e os olhos de Bàguirà mostraram-se tão duros como pedras de jade.
- Estiveste com o povo macaco, os símios cinzentos, o povo sem Lei, os que comem de tudo. É grande vergonha!
- Quando Bálu me feriu na cabeça - disse Máugli, ainda deitado de costas no chão -, afastei-me e os símios cinzentos desceram das árvores e compadeceram-se de mim. Ninguém mais se importou - e soltou alguns soluços.
- A compaixão do povo macaco! - fungou Bálu. - O sossego da torrente da serra! A frescura do sol estival! E depois, cachorro de homem?
- E depois... depois deram-me avelãs e coisas boas para comer, e... e levaram-me nos braços para o cimo das árvores e disseram-me que eu era seu irmão de sangue, salvo em não ter cauda, e um dia seria seu chefe.
