O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 36 / 158

- Os Bândarlougue mudaram de pouso - disse calmamente.

- Quando hoje vim para o sol ouvi-lhes a algazarra no cimo das árvores.

- São... são os Bândarlougue que agora perseguimos - disse Bálu. Mas as palavras pegaram-se-lhe na garganta, porque era a primeira vez na sua vida que um dos moradores da Selva confessava interessar-se pelos actos dos macacos.

- É então fora de dúvida que alguma coisa importante lança dois caçadores assim, chefes na sua própria Selva, tenho a certeza, na pista dos Bândarlougue - respondeu Cá cortesmente, ardendo de curiosidade.

- Na verdade - começou Bálu -, eu não passo do velho e, por vezes, estultíssimo mestre da Lei dos lobitos do Seiôuni, e aqui Bàguirà...

- Bàguirà - disse a pantera negra, fechando os queixos com um estalo, porque não queria passar por humilde. - O mal é este, Cá: esses pilha-nozes e esgarçadores de palmas roubaram-nos o cachorro de homem, de quem já talvez ouvistes falar.

- Ouvi qualquer coisa a Iqui (os espinhos tornam-no presunçoso) a respeito de uma insignificância humana que foi admitida numa alcateia, mas não acreditei. Iqui sabe muitas histórias, mas ouvidas a meio e muito mal contadas.

- Mas é verdade. É cachorro de homem como nunca houve outro - disse Bálu. - O melhor, mais sábio e mais ousado dos cachorros de homem, meu próprio discípulo, que vai tornar célebre o nome de Bálu em toda a Selva, e, o que é mais, eu... nós amamo-lo, Cá.

- Ts! Ts! - disse Cá, balançando a cabeça de um lado para o outro. - Também eu já soube o que é amar. Podia contar-vos histórias que...

- Ficará para uma noite límpida, quando todos estivermos bem comidos para apreciarmos devidamente - disse Bàguirà depressa. - O nosso cachorro está nas mãos dos Bândarlougue, de quem sabemos que, de todas as gentes da Selva, não temem senão a Cá.





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