O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 38 / 158

- Hei-de lembrar-me de ti logo que matar e reservarei a cabeça para ti só, ó modelo de milhafres!

- Nada! Não tem de quê. O rapaz lembrou-se da palavra-mestra. Eu não podia fazer outra coisa. - E Tchil subiu às voltas para o seu poiso.

- Não se esqueceu de se servir da língua - disse Bálu, com um risinho de orgulho. - Imagine-se, uma pessoa tão jovem a lembrar-se da palavra-mestra das aves enquanto o arrastavam através das árvores!

- Foi-lhe metida tenazmente na cabeça - disse Bàguirà. Mas orgulho-me dele, e agora precisamos de seguir para as Moradas Frias.

Todos sabiam onde ficava o sítio, mas pouca gente da Selva lá ia, porque aquilo a que chamavam Moradas Frias era uma velha cidade abandonada, perdida e mergulhada na Selva, e os irracionais raras vezes se servem de um local que os homens tenham ocupado. Fá-lo o javali, mas as tribos caçadoras não. De resto, os macacos moravam lá tanto quanto se pudesse dizer que moravam algures, e nenhum animal brioso se aproximaria ao alcance da vista, a não ser em tempo de seca, quando os tanques e reservatórios meio arruinados conservavam ainda alguma água.

- É viagem para metade de uma noite, a toda a velocidade - disse Bàguirà, e Bálu pôs-se muito sério. - Andarei tanto quanto puder - disse ansiosamente.

- Não nos atrevemos a esperar por ti. Segue-nos, Bálu. Nós precisamos de andar de pé ligeiro, eu e Cá.

- Com pés ou sem pés, sou capaz de acompanhar os teus quatro - disse Cá laconicamente. Bálu fez um esforço para se apressar, mas teve de se sentar arquejante, e deixaram-no, por isso, para que seguisse atrás, enquanto Bàguirà avançava ao meio galope rápido de pantera. Cá nada dizia, mas por muito que Bàguirà se esforçasse, a enorme jibóia mantinha-se a par dela.





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