O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 39 / 158

Quando chegavam a uma torrente, Bàguirà adiantava-se, porque a atravessava de salto, enquanto Cá nadava com a cabeça e um pedaço do pescoço fora da água, mas em terreno plano Cá recuperava o perdido.

- Pelo cadeado partido que me libertou - disse Bàguirà, quando o crepúsculo descera -, não és nada peca a andar!

- Tenho fome - disse Cá. - Depois chamaram-me rã sarapintada.

- Minhoca, minhoca amarela, ainda por cima.

- Tanto faz. Prossigamos - E Cá parecia escoar-se pelo chão, a descobrir de olhos fixos o caminho mais curto e seguindo-o.

Nas Moradas Frias, a grei dos macacos já nem se lembrava dos amigos de Máugli. Tinham levado o rapaz para a cidade perdida e, por enquanto, estavam satisfeitos consigo mesmos. Máugli nunca vira ainda uma cidade indiana, e, embora esta fosse quase um monte de ruínas, parecia-lhe maravilhosa e esplêndida. Um rei qualquer edificara-a, havia muito, numa pequena colina. Podia ainda seguir-se o traçado das calçadas de pedra que levavam às portas em ruínas, onde as últimas lascas de madeira pendiam das dobradiças gastas e ferrugentas. Havia árvores que penetravam nas muralhas de um lado e saíam pelo outro; as ameias estavam desmoronadas e a desfazer-se, e das janelas das torres pendiam, sobre as muralhas, trepadeiras bravas em espessas grinaldas.

Um grande palácio destelhado coroava a colina e os mármores dos pátios e das fontes estavam fendidos e manchados de vermelho e verde, o próprio lajedo do recinto onde viviam os elefantes reais tinha sido erguido e separado pelas ervas e árvores novas. Do palácio, viam-se filas e mais filas de casas destelhadas que formavam a cidade, semelhantes a favos vazios cheios de negrume; o bloco disforme de pedra que fora ídolo na praça onde quatro ruas se encontravam, as covas e covinhas às esquinas das ruas, onde outrora ficavam os fontanários públicos, e as cúpulas rachadas dos templos com figueiras bravas a rebentarem-lhes dos flancos.





Os capítulos deste livro