O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 42 / 158

Por muito dorido, faminto e sonolento que estivesse, Máugli não pôde deixar de soltar uma gargalhada quando os Bândarlougue começaram, vinte ao mesmo tempo, a dizer-lhe como eles eram grandes, sábios, fortes e gentis, e que louco era ele em querer deixá-los. «Nós somos grandes. Nós somos livres. Nós somos admiráveis. Somos os seres mais espantosos da Selva! Assim dizemos todos e portanto tem de ser verdade», berravam. «Ora, como tu és ouvinte novo e podes levar as nossas palavras aos habitantes da Selva, para que de futuro nos dêem atenção, queremos dizer-te tudo a respeito das nossas excelentíssimas pessoas.» Máugli não se opôs, e os macacos reuniram-se às centenas e centenas no terraço, a ouvir os seus próprios oradores cantar as glórias dos Bândarlougue, e sempre que um tribuno parava a tomar fôlego, berravam todos ao mesmo tempo: «Isso é verdade, todos o dizemos.» Máugli abanava a cabeça e piscava os olhos, e dizia «Sim», quando o interrogavam, mas a cabeça andava-lhe à roda com o barulho. «O Chacal Tábàqui deve ter mordido esta gente toda - disse para consigo - e agora estão danados. Isto é com certeza a diuaní a raiva. Eles nunca adormecerão? Lá vem agora uma nuvem a cobrir a Lua. Se fosse bastante grande, eu poderia tentar fugir na escuridão. Mas sinto-me cansado.»

Aquela mesma nuvem era observada do fosso arruinado por baixo da muralha da cidade, por dois bons amigos, pois Bàguirà e Cá, sabendo bem como os macacos eram perigosos em grande número, não queriam arriscar-se. Os macacos não lutam senão na proporção de cem para um e poucos seres da Selva estão dispostos a enfrentar tal desproporção.

- Vou para a muralha ocidental- segredou Cá -, e descerei rapidamente com o declive a meu favor. Não se me atirarão ao lombo às centenas, mas.





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