O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 45 / 158

Foi então que Bàguirà ergueu o queixo a escorrer e, desesperada, soltou o grito das serpentes a pedir socorro: «Somos do mesmo sangue, eu e vós», porque julgou que, à última hora, Cá tivesse virado costas. O próprio Bálu, meio abafado pelos macacos à borda elo terraço, não pôde deixar de se rir por entre dentes ao ouvir a pantera negra pedir socorro.

Cá mal acabara de escalar a muralha ocidental, chegando com um repelão que deslocara uma pedra da cornija para o fosso.

Não desejava perder qualquer das vantagens do terreno e enroscou-se e desenroscou-se uma ou duas vezes, para se certificar de que todos os palmos do seu comprido corpo estavam em boa forma. Entretanto, a luta com Bálu prosseguia, e os macacos guinchavam em redor de Bàguirà no tanque, e o morcego Mangue, voando de um lado para o outro, levou a notícia do grande combate a toda a Selva, até que o próprio elefante selvagem, Hathi, se pôs a trombetear; lá longe, bandos dispersos de macacaria acordaram e partiram aos saltos pelos caminhos das copas, em auxílio dos camaradas das Moradas Frias; tendo o ruído do combate acordado todas as aves diurnas na redondeza de muitas milhas. Cá veio então direita, rápida e ansiosa por matar. O poder combativo de um pitão está na marrada da cabeça, apoiada por toda a força e peso do corpo. Se sois capazes de imaginar uma lança, ou um aríete, ou um martelo de meia tonelada de peso impelido por uma vontade serena que vive no cabo do mesmo, podeis calcular aproximadamente o que era Cá quando se batia. Um pitâo de quatro ou cinco pés de comprimento é capaz de derrubar um homem, se o atingir em cheio no peito, e Cá tinha trinta pés de comprimento, como sabeis. O primeiro golpe foi dirigido para o centro da multidão que envolvia Bálu - foi despedido de boca fechada em silêncio, e não foi preciso outro.





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