O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 46 / 158

Os macacos dispersaram aos gritos de «Cá. É Cá! Fugi! Fugi!».

Gerações e gerações de macaco haviam sido levadas a portar-se bem com as histórias que os seus maiores lhes contavam de Cá, esse ladrão nocturno que deslizava pelos ramos sem fazer mais ruído que o musgo a crescer e roubava o mais forte dos macacos de todos os tempos; da velha Cá, que sabia fazer-se passar tanto por um toco seco ou ramo podre, em que os mais prudentes se enganavam, até que o ramo os apanhava, Cá era tudo quanto os macacos temiam na Selva, porque nenhum deles conhecia os limites do seu poder, nenhum podia encará-la de frente e nunca nenhum saíra vivo do seu abraço. E por isso fugiam, gaguejando de terror, para os muros e telhados das casas, e Bálu deu um grande rugido de alívio. Tinha a pele muito mais grossa do que Bàguirà, mas fora muito maltratada na luta. Cá abriu então a boca pela primeira vez, soltou um grande silvo e os macacos distantes, que corriam em defesa das Moradas Frias, estacaram de repente, aninhando-se, até que os ramos, carregados deles, se dobraram e estalaram sob o peso. Os macacos nas paredes e nas casas vazias cessaram de gritar e, no silêncio que caiu sobre a cidade, Máugli ouviu Bàguirà a sacudir os flancos molhados ao sair do tanque. Então o clamor rebentou de novo. Os macacos escalaram mais as paredes, agarraram-se ao pescoço dos grandes ídolos de pedra e guinchavam, pulando ao longo das ameias, ao passo que Máugli, dançando no pavilhão de veraneio, aplicou a vista aos rendilhados da parede e deu um silvo entre os dentes incisivos, a modo de mocho, para mostrar o seu desprezo e escárnio.

- Tira o cachorro de homem daquela armadilha, eu já não posso mais - disse Bàguirà, arquejante. - Peguemos no cachorro de homem e vamo-nos.





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