O Livro da Selva - Cap. 2: A CAÇADA DE CÁ Pág. 48 / 158

- Não é nada, não é nada, se tu estás salvo, meu orgulho de todas as rãzinhas - choramingou Bálu.

- Disso havemos de pensar mais tarde - disse Bàguirà em tom seco, que não agradou nada a Máugli. - Mas aqui temos Cá, a quem devemos a vitória, e tu a vida. Agradece-lhe como é costume entre nós, Máugli.

Máugli voltou-se e viu a cabeça do grande pitão balouçando-se um palmo acima da sua.

- Este é então o homúnculo - disse Cá. - Muito macia tem a pele e não é muito diferente dos Bândarlougue. Acautela-te, homenzinho, que te não tome como macaco, ao crepúsculo, quando tiver mudado de pele.

- Somos do mesmo sangue, eu e tu - respondeu Máugli. Recebo a vida de tuas mãos esta noite. A minha caça será a tua caça, se alguma vez tiveres fome, ó Cá.

- Obrigadíssima, irmãozinho - disse Cá, embora lhe reluzissem os olhos. - E que é que tão ousado caçador mata? Pergunto para poder segui-lo, quando ele sair à caça.

- Eu nada mato - sou pequeno de mais -, mas encaminho as cabras para quem as possa aproveitar. Quando tiveres o estômago vazio vem ter comigo e verás se falo verdade. Tenho alguma habilidade nestas - estendeu as mãos -, e se alguma vez caíres numa armadilha, talvez pague a dívida que tenho para contigo, para com Bàguirà e para com Bálu. Boa caça a todos, meus senhores.

- Bem dito - rosnou Bálu, pois Máugli agradecera muito gentilmente. O pitão pousou levemente a cabeça durante um minuto no ombro de Máugli. - Coração valente e língua cortês - disse -, levar-te-ão longe através da Selva, homenzinho. Mas agora abala depressa com os teus amigos. Vai dormir, pois a Lua põe-se e o que vai seguir-se não é bom que tu o vejas.

A Lua ia baixando para além das colinas, e as filas de trémulos macacos apinhados nas muralhas e ameias pareciam franjas andrajosas e agitadas de fantasmas.





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