a homem arregalou os olhos e largou a correr pela única rua da aldeia bradando pelo padre, que era homem corpulento e gordo, vestido de branco, com uns sinais vermelhos e amarelos na testa.
O sacerdote veio à porta, acompanhado de cem pessoas pelo menos, que fitavam, discutiam e berravam, apontando para Máugli.
- Não tem modos nenhuns, esta gente - disse Máugli para consigo. - Só o símio cinzento se portaria como eles. - E, atirando para trás a comprida cabeleira, fez uma carranca à multidão.
- Não há nada a recear - disse o padre. - Reparai nas cicatrizes que traz nas pernas e nos braços. São mordeduras de lobos. Não passa de um menino-lobo que fugiu da Selva.
Naturalmente, ao brincarem juntos, os lobinhos muitas vezes tinham arranhado Máugli mais do que queriam e ele trazia os braços e as pernas cobertos de cicatrizes brancas. Mas nunca se lembraria de chamar-lhes mordeduras, porque sabia o que as verdadeiras mordeduras eram.
- Arré! Arré! - disseram duas ou três mulheres ao mesmo tempo. - Ser mordido por lobos, pobre criança! É um belo rapaz. Tem olhos que parecem fogo. Palavra de honra, Messua, que faz lembrar o teu filho que o tigre levou!
- Deixai-mo ver - disse uma mulher, com pesadas argolas de cobre nos pulsos e nos tornozelos, que se pôs o olhar para Máugli com a mão sobre os olhos. - Não o é decerto, mas tem a cara do meu rapaz.
O padre era homem esperto e sabia que Messua era a mulher do mais rico dos aldeões do sítio. Por isso, olhou o céu uns instantes e declarou solenemente:
- O que a Selva levou a Selva restituiu. Leva o rapaz para casa, irmã, e não te esqueças de honrar o padre que penetra assim na vida dos homens.
«Pelo touro que me comprou - disse Máugli para consigo mas todo este palavreado parece outro exame perante a alcateia! Bem, se sou homem, homem tenho de tornar-me.