Máugli, que sabia, naturalmente, alguma coisa daquilo de que falavam, tinha de cobrir a cara para esconder o riso, enquanto Buldeo, com o mosquete da Torre sobre os joelhos, mudava de uma para outra história de maravilha, e Máugli não conseguia estar quieto com os ombros.
Buldeo estava a explicar que o tigre que arrebatara o filho de Messua era tigre encantado, que trazia no corpo a alma de um velho usurário malvado, falecido alguns anos atrás.
- E sei que assim é - disse -, porque Purun Dass sempre coxeou de uma cacetada que lhe deram num motim em que lhe queimaram os livros de contas, e o tigre de que falo, esse coxeia também, como se vê pela desigualdade dos passos que as pegadas revelam.
- Sim, sim, isso deve ser verdade - disseram os outros, abanando todos a cabeça.
- Que teias de aranha e mistificações são todos esses contos? - disse Máugli. - Esse tigre coxeia porque nasceu coxo, como toda a gente sabe. Falar da alma de um agiota, metida numa fera que nunca teve a coragem de um chacal, é infantil.
Buldeo ficou por um instante mudo de espanto e o maioral arregalou os olhos.
- Oh! É o miúdo da Selva, não é? - disse Buldeo. - Se és assim tão sabido, melhor farias levando a pele dele a Canivara, pois o Governo prometeu cem rupias por ela.