O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 6 / 158

- Sou eu, Racxa [o Demónio], que respondo. O cachorro de homem é meu, Langri; meu e só meu! E ninguém o matará. Viverá para correr com a alcateia e caçar com a alcateia; e no fim, repara bem, caçador de cachorrinhos nus, papa-rãs, mata-peixes, caçar-te-á a ti. E agora retira-te, senão, pelo sâmbar que matei (eu não como gado morto de fome), vais voltar para a tua mãe, fera queimada da Selva, mais coxo do que vieste ao mundo! Vai-te!

Pai Lobo assistia espantado. Quase se esquecera já dos tempos em que conquistara Mãe Loba em luta leal com cinco outros lobos, quando ela corria com a alcateia, e não era por simples cortesia que lhe chamavam o Demónio. Xer Cane poderia enfrentar Pai Lobo, mas nunca lutar com Mãe Loba, pois sabia que onde se encontrava ela tinha todas as vantagens do terreno e bater-se-ia até à morte. Por isso recuou da boca do covil rosnando e, quando se viu livre, bradou:

- Cada cão ladra em casa do dono! Veremos o que diz a alcateia à criação de cachorros de homem. O cachorro é meu e aos dentes me há-de vir parar no fim, ó ladrões de rabo de vassoura!

Mãe Loba atirou-se ao chão ofegante, no meio dos filhos, e Pai Lobo disse-lhe gravemente:

- Xer Cane, nisto, fala verdade. O cachorro tem de ser apresentado à alcateia. Queres ainda conservá-lo, Mãe?

- Conservá-lo! - disse ela, arquejante. - Chegou nu, de noite, só e esfomeado; todavia, não tinha medo! Olha, já empurrou um dos meus miúdos para ó lado. E aquele carniceiro coxo queria matá-lo e fugir depois para o Ueinganga, enquanto os aldeões aqui nos invadiam os covis para se vingarem! Se o quero conservar? Pois que dúvida? Está quieto, rãzinha. Ó Máugli pois Máugli, a rã, te chamarei -, tempo virá em que darás caça a Xer Cane como ele te deu a ti.





Os capítulos deste livro