O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 7 / 158

- Mas que dirá a nossa alcateia? - disse Pai Lobo.

A Lei da Selva determina com toda a clareza que todo o lobo pode, quando casa, retirar-se da alcateia a que pertence; mas, logo que os filhos que tiver estejam em idade de se aguentarem de pé, tem obrigação de os apresentar no Conselho da Alcateia, que se efectua geralmente uma vez por mês pela lua cheia, para que os outros lobos os conheçam. Depois dessa observação, os lobitos podem andar por onde lhes apetecer, e, enquanto não tiverem abatido o seu primeiro gamo, o lobo adulto da alcateia que mate algum deles não tem perdão. A pena é a morte para o assassino, se este for descoberto. E, se ponderarmos um momento, veremos que tem de ser assim.

Pai Lobo aguardou até que os filhos pudessem correr um bocadinho e depois, na noite da reunião da alcateia, levou-os e a Máugli e à Mãe Loba à Rocha do Conselho - o cimo de um cabeço coberto de pedras e calhaus, onde uma centena de lobos podia ocultar-se. Àquêlà, o grande lobo cinzento solitário que governava a alcateia por força e astúcia, jazia a todo o comprido no seu rochedo, e, abaixo dele, sentavam-se quarenta ou mais lobos de todos os tamanhos e cores, desde os veteranos atexugados, que só por si dominavam um gamo, até aos novatos pretos de três anos, que se julgavam capazes de fazê-lo. Havia passado um ano que o Lobo Solitário os dirigia. Caíra duas vezes numa armadilha em novo, e outra vez tinham-lhe dado tal sova que o deixaram por morto; conhecia pois os usos e costumes dos homens. Pouco se falava na reunião. Os lobitos rebolavam uns sobre os outros no meio do círculo, onde as mães e pais estavam sentados, e, de quando em quando, um lobo adulto aproximava-se tranquilamente de um lobito, observava-o com atenção e voltava para o seu lugar com passos silenciosos.





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