O Livro da Selva - Cap. 3: TIGRE! TIGRE! Pág. 69 / 158

- Ele desvia as balas, Buldeo, aquele búfalo era o teu.

- Ora, que vem a ser isto? - disse Máugli, desnorteado, vendo que as pedradas se adensavam cada vez mais.

- Não são diferentes da alcateia, estes irmãos teus - disse Àquêlà, sentando-se calmamente. - Tenho a ideia de que se as balas querem dizer alguma coisa, te desejam expulsar.

- Lobo! Lobito! Vai-te daqui! - berrou o padre, agitando um rebento da sagrada planta tulsi.

- Outra vez? Da última, foi porque eu era homem. Desta vez, porque sou lobo. Vamos, Àquêlà.

Uma mulher - era Messua - atravessou a correr para a manada e gritou:

- Ó filho, filho! Dizem que és bruxo, que podes tornar-te em qualquer bicho que queiras. Não acredito, mas vai-te daqui, senão matam-te. Buldeo diz que és bruxo, mas eu sei que vingaste a morte de Nadú.

- Volta para aqui, Messua! - clamava a turba. - Volta, senão matamos-te à pedrada.

Máugli soltou um riso breve e desdenhoso, porque uma pedra lhe acertara na boca. - Foge depressa, Messua. Esta é uma das histórias sem pés nem cabeça que eles contam, debaixo da grande árvore, ao escurecer. Pelo menos, paguei-te a vida do teu filho. Adeus, e corre depressa, pois vou fazer entrar a manada mais rapidamente que os seus tijolos. Não sou bruxo nenhum, Messua. Adeus.

- Agora outra vez, Àquêlà - bradou. - Faz entrar a manada. Os búfalos estavam mais que desejosos de chegar à aldeia.

Mal precisaram do uivo de Àquêlà para investirem pela porta como um furacão, dispersando a turba para a direita e para a esquerda.

- Contai-os bem! - bradou Máugli com desdém. - Pode ser que eu vos roubasse algum. Contai-os, porque eu não vo-los vou guardar mais. Passai bem, filhos dos homens, e agradecei a Messua que eu não entre com os meus lobos a caçar-vos, rua abaixo rua acima.





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