Quando Matcá voltava da pesca no mar alto, ia logo direita ao recreio dos miúdos, chamava como a ovelha pelo cordeirinho e aguardava até ouvir o balir de Cótique. Então seguia num tiro em direcção a ele, agitando as barbatanas dianteiras e derrubando miúdos à esquerda e à direita. Havia sempre uma centena de mães em busca dos filhos nos campos de recreio e os miúdos tinham de se desembaraçar; mas, como Matcá disse a Cótique, «contanto que não te deites em água lodosa e não apanhes a sarna, ou deixes entrar a areia para um golpe ou arranhão e não vás nadar quando o mar está bravo, nada te fará mal aqui».
As focas pequeninas não sabem nadar melhor que as criancinhas, mas enquanto não aprendem não se sentem felizes. Da primeira vez que Cótique desceu para o mar uma onda levou-o para onde não tinha pé, a sua grande cabeça foi para o fundo e as pequenas barbatanas traseiras voaram para cima, exactamente como a mãe lhe dissera na canção, e, se a vaga seguinte o não tivesse atirado para terra, ter-se-ia afogado.
Depois disso aprendeu a deitar-se num charco da praia e deixar que o rolo do mar o cobrisse e levantasse, enquanto ele agitava as barbatanas, mas mantinha-se sempre de olhos abertos à espreita das grandes vagas que podiam fazer-lhe mal. Levou duas semanas a aprender a servir-se das barbatanas e durante todo esse tempo deixou-se andar ao sabor da água, ora dentro ora fora, e tossia, grunhia e subia à praia de rojo para dormir sonecas sobre a areia, e voltava de novo, até que, por fim, descobriu que o seu elemento era a água.
Podeis imaginar que belo tempo passou então com os companheiros, a mergulhar sob as vagas, ou entrar na crista de uma onda e chegar a terra com um baque e respingos, enquanto a grande vaga deslizava praia acima, erguer-se sobre a cauda e coçar a cabeça, como faziam os adultos, ou jogar o Sou o Rei do Castelo em rochas resvaladiças e cobertas de algas que mal sobressaíam das águas.